Dr. Gene Edward Veith
O
Papai Noel tornou-se o santo padroeiro de um Natal secularizado. Muitos
cristãos estão tentando equilibrar o que há de místico sobre o Papai Noel com o
verdadeiro significado do Natal centralizado em Cristo. Algumas famílias estão
tentando eliminar o Papai Noel completamente, mas, mesmo isso, tem se
demonstrado uma tarefa complicada. (Como uma criança disse certa vez aos avós: “Meus
pais não acreditam em Papai Noel, mas eu sim!”).
E,
no entanto, não importa o quanto as pessoas tentem, o Natal tem resistido à
secularização. O próprio Natal pressupõe um nascimento (que é o que significa a
palavra “natal”), o que nos leva a pensar no nascimento de Jesus[1]. E
mesmo Papai Noel é uma versão fantástica de São Nicolau, que realmente é um
santo.
De
fato, na igreja católica romana e na igreja ortodoxa oriental, São Nicolau é um
dos mais populares santos venerados por eles. Ele é o santo padroeiro das
crianças, dos estudantes, dos comerciantes, dos marinheiros, (por mais estranho
que pareça) dos ladrões e de toda a nação da Grécia. Histórias sobre os santos
são chamadas “lendas”. Por elas não serem necessariamente historicamente
precisas atribuiu-se um sentido mais amplo para as coisas que são “lendárias”.
Ainda assim, lendas muitas vezes contém um fundo de verdade, se não na
história, então no seu significado.
Nós
sabemos que São Nicolau viveu de 270 d.C. a 343 d.C. e foi bispo de Mira, na
atual Turquia. As lendas nos falam sobre como ele dava presentes às crianças e
como ele pagou dotes para jovens mulheres a fim de que elas pudessem casar,
deixando cair ouro pela chaminé ou jogando dinheiro pelas janelas de modo que ele
aparecesse nas meias penduradas para secar em frente à lareira.
Outra
história, porém, conecta São Nicolau a um importante evento histórico. Diz-se
que ele compareceu ao Concílio de Nicéia, a conferência de bispos que se reuniu
para examinar as reivindicações de Ario, que ensinava que Cristo não era Deus,
mas apenas um homem. Os bispos reafirmaram a verdade bíblica de que Cristo é
Deus e homem, usando uma linguagem que é usada ainda hoje quando confessamos o
Credo Niceno.
Supostamente,
o bispo Nicolau de Mira ficou tão irritado quando ouviu Ario derrubando a
divindade de Cristo que ele foi para cima do herege e lhe deu um tapa no rosto.
Algumas descrições apresentam o animado velho São Nicolau acertando Ario com o
punho!
O
imperador Constantino (que simpatizava com os arianos) estava presente e pediu
que jogassem Nicolau na prisão. Seus colegas bispos, chocados com a reação inapropriada,
votaram por despojá-lo de seu ofício e tiraram sua estola de bispo.
Naquela
noite, de acordo com a lenda, como Nicolau estivesse definhando em sua cela,
ele teve uma visão de Jesus e Maria. O Senhor lhe perguntou: "Por que você
está aqui?" Nicolau respondeu: "Porque eu te amo." Jesus deu-lhe
um livro feito de ouro dos Evangelhos e Maria deu-lhe uma nova estola de bispo.
No dia seguinte, os outros bispos acordaram com uma convicção de que deviam
restaurar Nicolau ao seu ofício. Foi o que fizeram.
Bem,
alguma coisa disso realmente aconteceu? Provavelmente não! Os relatos
contemporâneos do concílio não mencionam qualquer incidente desse tipo. Ainda
assim, Nicolau pode ter estado no Concílio de Nicéia. Todos os bispos da Igreja
estavam convidados, e Nicéia e Mira ficavam no mesmo país. Alguns relatos primitivos
dizem que Nicolau de Mira estava presente. A lista de participantes, porém, não
o inclui. (Melhor dizendo, das onze cópias preservadas, apenas três incluem,
mas essas poderiam ser adições posteriores).
Não
temos como verificar se Nicolau realmente acertou Ario, mas essa é uma tradição
tão razoável quanto a de ele colocar ouro nas meias de jovens garotas. E com
certeza muito mais razoável do que a de ele morar no Polo Norte com elfos e
renas voadoras. O significado da lenda, contudo, é certamente verdade: São
Nicolau confessou a Cristo.
O
problema com o culto aos santos, como praticado historicamente, é que os santos
se sobressaiam a Cristo. Marinheiros rezavam a São Nicolau para salvá-los de
uma tempestade, ao invés de apelar para Aquele que acalmou o mar da Galileia. Da
mesma forma, as crianças pedem ao Papai Noel que lhes traga presentes, em vez
de pedir ao Doador de toda dádiva boa e perfeita. Santos de verdade, entretanto,
não apontam para si mesmos, mas para Cristo. Não foram as suas virtudes
sobrenaturais que fizeram deles santos. Antes, foi a sua fé em Cristo.
São
Nicolau sabia que Cristo é “verdadeiro Deus do verdadeiro Deus”, que “foi feito
homem”, e ele também sabia que Cristo era “por ele”. São Nicolau pode ou não
ter estado em uma prisão literal. Mas ele certamente conheceu a prisão que é o
pecado. Não obstante, Cristo veio a ele com seu perdão, trazendo-lhe a Sua
Palavra e Seu chamamento.
Podemos
devolver a Nicolau, o homem por trás do personagem que se tornou o Papai Noel, o
papel que corresponde ao verdadeiro santo (ou seja, ser um exemplo de fé[2])?
Se podemos, então a melhor forma de fazê-lo provavelmente seja construindo sobre
o que está mais associado a ele: o dar presentes. Podemos explicar aos nossos
filhos que eles recebem presentes no Natal porque, nas palavras do Catecismo
Menor, Deus “me deu corpo e alma... vestes, calçados, comida e bebida, casa e
lar... e todos os bens”. Acima de tudo, Ele nos deu a salvação, não com base em
se temos sido travessos ou comportados, mas como um presente gratuito. Isto é,
Ele nos deu Jesus.
Nós
também podemos aproveitar a oportunidade para ensinar a doutrina da vocação.
Deus te dá Seus presentes através do que outras pessoas, tais como teus pais e teu
pastor, te dão. Assim, Deus é Aquele que está te dando brinquedos e presentes
na manhã de Natal por meio de todas essas pessoas que você ama.
Podemos
dizer aos nossos filhos que Deus deu o presente Jesus ao Papai Noel (ou seja, São
Nicolau) há muito tempo. Ele se tornou um pastor que ajudou as crianças e,
quando ele batizava, dava-lhes também o presente Jesus. É por isso que o Natal
tem Papai Noel e presentes. Isso, na verdade, é tudo a respeito de Jesus!
Fonte: Igreja
Luterana – Sínodo de Missouri
[1] Em
inglês, essa referência é ainda mais forte, pois “Natal” em inglês é “Christmas”,
contendo em si própria a palavra “Christ”, ou seja, “Cristo”. Algumas lojas até
tentam driblar essa referência ao Natal cristão referindo-se a ele como “holiday”
(feriado), porém essa palavra é uma contração de “holy day” (dia santo), contendo
em si uma confissão de que este dia é santo.
[2]
Nas palavras das Confissões Luteranas, “Do culto aos santos os nossos ensinam
que devemos lembrar-nos deles, para fortalecer a nossa fé ao vermos como
receberam graça e foram ajudados pela fé; e, além disso, a fim de que tomemos
exemplo de suas obras, cada qual de acordo com sua vocação...”. Confissão de
Augsburgo, Artigo XXI: Do Culto aos Santos. Hinário Luterano. Porto Alegre: Editora Concórdia, 2001. p.71.
Tradução: Charles Samuel Voigt Ledebuhr (com adaptações)
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