No centro da mensagem bíblica estão as boas novas de que
Deus é um Deus de amor gracioso. Os deuses da filosofia são seres supremos que
ficam revestidos em impressionante sigilo. Alguma verdade a respeito deles pode
ser descoberta apenas por alguns poucos grandes pensadores que penetram nos
segredos dos céus, mas para o resto da humanidade eles são entidades
desconhecidas. O Deus bíblico não é um Deus que espera que os seres humanos o
descubram. Pelo contrário, Ele toma a iniciativa e busca seu povo. Ele escolhe
o povo de Israel para que através dele Ele pudesse se aproximar de todos os
povos. Antes mesmo de nós pensarmos em buscar a Deus, Ele estava nos buscando. Jesus
disse a seus discípulos: “Não foram vocês que me escolheram; pelo contrário,
fui eu que os escolhi...” (João 15.16). Essas palavras podem ser usadas para
resumir o relacionamento entre Deus e seu povo ao longo de toda a Bíblia.
O amor gracioso de Deus significa que Deus nos busca, mas
isso também significa que Deus recebe e perdoa seres humanos pecadores. A visão
popular de religião constantemente retrata Deus como o grande juiz no céu. Seu
computador celestial mantém um registro diário de todas as ações boas e más.
Quando o momento do julgamento vier, aqueles cuja contagem de ações boas
superar sua contagem de ações más será aceito e recompensado por Deus. Mas
aqueles cujas ações más superarem as boas serão lançados na punição. O Deus
bíblico, no entanto, quebra radicalmente essa imagem popular. Ele não aceita
somente pessoas boas, mas Ele busca os pecadores e os excluídos. Ele é o Deus
que deseja antes salvar do que destruir ou punir.
O amor gracioso de Deus surge claramente nos textos
indicados como referência para esta mensagem. Jacó está fugindo da justificável
ira de seu irmão (Gn 28.10-17). Neste ponto de sua vida, Jacó já provou ser um
vergonhoso trapaceiro que enganou seu pai idoso e roubou os direitos de filho
mais velho e a bênção de seu irmão. Com o passar do tempo ele acrescentava
práticas ainda mais contundentes ao seu histórico. Parece improvável que Deus
escolhesse um personagem tão desagradável como Jacó para Seus propósitos. Mas o
ponto desta passagem é que Deus vem até o renegado Jacó e renova com ele a
aliança feita com Abraão, seu avô. A Jacó é prometido que ele é para ser aquele
por meio de quem a aliança será transmitida para as gerações futuras. “Eu não o
abandonarei até que cumpra tudo o que lhe prometi” (v.15). Jacó não provou ser particularmente
digno de confiança, mas Deus prometeu a Jacó a sua fidedignidade.
A passagem de Romanos 5.1-11 é uma bela versão do mesmo
tema. Assim como Deus veio com a promessa para o trapaceiro Jacó, do mesmo modo
Paulo nos fala que Jesus veio para morrer pela humanidade pecadora. “Mas Deus
nos mostrou o quanto nos ama: Cristo morreu por nós quando ainda vivíamos no
pecado” (v.8). Esta é uma notícia surpreendente! Como diz Paulo, a maioria de
nós não estaríamos dispostos a dar a vida por uma pessoa justa. Como nós
podemos compreender alguém que tão voluntariamente deu sua vida por todos os
injustos? Mas essa é a natureza do amor de Deus. Ele não nos amou na medida em
que nós agimos para merecê-lo. Pelo contrário, ele nos amou em nosso pecado e
nos buscou para nos livrar do nosso estado pecaminoso. E assim, como Jacó
recebeu a promessa e as bênçãos de Deus apesar de seu estado pecaminoso, Paulo
nos garante que em Cristo nós somos abençoados. Nós fomos reconciliados com
Deus, para que possamos aceitar a paz de Deus, participar na glória de Deus e
conhecer alegria.
Extraído de: The Second Sunday in Lent in Proclamation: Aids for Interpreting the Lessons of the Church Year - Lent, William Hordern e John Otwell (adapt.).
Trad. e adapt.: Charles S. V. Ledebuhr
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