Texto base: Lucas 22.7-23
Curiosidades
sobre o episódio da Última Ceia existem muitas. Dan Brown, em seu livro O
Código Da Vinci, que até virou filme, achou que tinha encontrado algumas bem
interessantes na pintura chamada “A Última Ceia” de Leonardo da Vinci, mas
estudiosos já demonstraram que, por mais interessantes que elas fossem, eram
todas infundadas. Agora, se estamos à procura de curiosidades acerca da Última
Ceia, vamos procurar na Ceia original, conforme ela nos é contada, por exemplo,
pelo evangelista Lucas, e não numa reprodução de quinze séculos depois, como é
a pintura de Leonardo da Vinci. Na original sim, encontraremos algumas
curiosidades bem interessantes.
Por exemplo, por
mais que essa Ceia pareça para nós uma grande novidade do Novo Testamento, ela
não é. Os discípulos perguntam à Jesus onde Ele quer que preparem a Ceia da
Páscoa naquele ano, ou seja, essa Ceia acontecia todos os anos na Páscoa. Ela é
tão antiga quanto Moisés. Quando Deus mandou Moisés liderar o povo de Israel na
saída da escravidão do Egito e o Faraó não quis deixar o povo de Israel ir
embora, Deus mandou dez pragas para castigar os egípcios. A última delas foi a
morte de todos os filhos mais velhos. Foi nessa ocasião que Deus mandou o povo
de Israel começar a celebrar a Páscoa. Parte dessa celebração envolvia a morte
de um cordeiro que seria comido na Páscoa. Um fato que chama a atenção é que
nessa primeira Páscoa, no tempo de Moisés no Egito, a sangue desse cordeiro
devia ser usado para marcar os batentes das portas das casas dos israelitas.
Assim, quando o Anjo da Morte passou de noite para matar todos os filhos mais
velhos das famílias egípcias, ele não matou os filhos mais velhos das casas dos
israelitas porque viu a marca do sangue do cordeiro no batente das portas.
Desde então, todos os anos o povo Israel celebrava a Páscoa e relembrava de
como Deus os havia salvado naquela ocasião. A Ceia que Jesus celebrou com os
discípulos faz parte dessa celebração da Páscoa.
Só que dessa
vez, tem uma coisa diferente nessa Páscoa que Jesus celebrou com seus
discípulos. Jesus pega o pão, dá aos discípulos e diz: Isto é o meu corpo.
Depois dá o vinho e diz: Isto é o meu sangre. Assim, ele acabava de instituir a
Santa Ceia. Mas o interessante é que ele chama a Ceia de “nova aliança” ou,
como também é possível chamar, “novo testamento”. Geralmente nós chamamos de
Antigo Testamento e Novo Testamento as duas partes maiores em que estão
divididas as nossas Bíblias. No entanto, Antigo Testamento e Novo Testamento
são as duas alianças que Deus fez com o seu povo: a Antiga Aliança com o seu
povo antes da vinda de Jesus e a Nova Aliança com o seu povo depois da vinda de
Jesus. De fato, não existe uma divisão da Bíblia em duas partes. Ela toda é uma
só. Também não existem duas religiões praticadas pelo povo de Deus, uma no
Antigo e outra no Novo Testamento. É uma religião só. As diferenças no culto do
povo de Deus no Antigo e no Novo Testamento se devem às duas Alianças que Deus
fez com o seu povo. E o momento da divisão, em que o povo de Deus deixa as
práticas da Antiga Aliança e começa as da Nova Aliança, é a Última Ceia. É por
isso que o povo de Deus no Antigo Testamento fazia sacrifícios e o do Novo
Testamento (e nós fazemos parte do povo de Deus do Novo Testamento) celebra a
Santa Ceia.
Mas tanto a
Antiga Aliança como a Nova Aliança se baseavam na mesma coisa: no sangue. Na
Antiga Aliança, o sangue de Jesus era representado pelo sangue dos animais
sacrificados e na Nova Aliança o sangue de Jesus está no vinho da Santa Ceia.
Mas é o mesmo sangue, o sangue de Jesus, o sangue que é derramado “em favor de
vocês”, como disse o próprio Jesus. E esse é o ponto mais importante de todos,
tão importante que todas as demais curiosidades a respeito da Última Ceia ficam
parecendo insignificantes: o sangue da aliança foi derramado em nosso favor. E
isso é tão importante porque diz respeito diretamente a cada um de nós.
Imagine só se
a cada pecado que você cometesse você tivesse que pagar por esse pecado. A
verdade é que nem é bom ficar imaginando, pois só de pensar no tamanho da
dívida que teríamos com Deus, nós ficaríamos malucos!!! Então Deus faz uma Aliança,
ou seja, um acordo com a gente. Ele diz: “Eu vou pagar a dívida que você tem
comigo”. Doido isso, né? E fica mais doido ainda se levarmos em consideração o
preço dessa dívida. Lá no jardim do Éden Deus disse que o preço da
desobediência era: “certamente morrereis” (Gn 2.17) ou, usando as palavras do
apóstolo Paulo: “O salário do pecado é a morte” (Rm 6.23). O preço para pagar a
dívida que tínhamos com Deus era “morte” e esse foi o preço que Ele pagou. O
sangue da aliança é o sangue que Jesus derramou quando foi crucificado.
O mais
interessante é que sempre que se faz uma aliança, ou seja, quando se faz um
acordo, o normal é que cada parte entre com alguma coisa. Mas no caso da
aliança de Deus conosco nós não entramos com nada. Quer dizer, nós entramos com
a dívida e Ele com o pagamento, mas esse não é exatamente o tipo de acordo que
a gente está acostumado a ver. Imagine se alguém te oferecesse um acordo onde
você só tivesse benefícios e não precisasse dar nada em troca. Talvez você nem
acreditasse e ficasse desconfiado de que “deve existir algum truque nessa
história”. Vai ver que é por isso que ao longo do tempo muita gente duvidou da
aliança de Deus e ficou procurando truques e curiosidades, como fez Dan Brown
no Código da Vinci. Mas na aliança de Deus conosco é exatamente assim que
funciona: Ele pagou a nossa dívida e nós somos o seu povo. Simples assim! O
motivo que levou Ele a fazer essa aliança improvável conosco? Tanto assim ele
nos ama!!!
Charles Samuel Voigt Ledebuhr
Teologando Seminário Concórdia/ULBRA