Quando eu era criança, meus pais
e meus avós tinham uma frase pronta que repetiam todas as vezes que eu fazia
algo do qual não gostassem, ou seja, ela era repetida várias vezes, todos os
dias, era mais ou menos assim: “Saulo, isso Jesus não gosta!!!”. E Jesus não
gostava de muita coisa, na verdade, Ele era bem difícil de agradar, pois Ele não
gostava de quase nada, não gostava de ouvir música de rádio, não gostava de
preguiça na ora de levantar e ir para o culto, não gostava que gritasse ou
subisse em árvores na sexta-feira santa, e, por incrível que pareça, Jesus
também não gostava que se eu desse milho demais para as galinhas da minha mãe.
Então, de repente me deparo com
Salomão dizendo: “Vai, pois, come com alegria o teu pão e bebe gostosamente o
teu vinho, pois Deus já de antemão se agrada das tuas obras”. Como assim? Eu
achei que Ele fosse alguém muito difícil de agradar, e que eu precisava me
esforçar muito!
Assim
como meus pais, toda a humanidade está presa a este pensamento de que é sempre preciso
fazer algo para agradar a Deus, e, dependendo do quanto ou quão bem fazemos,
merecemos receber uma recompensa divina. Além disso, achamos que conhecemos tão
bem os gostos de Deus, e somos tão cumpridores de sua vontade, que somos
rápidos em apontar as falhas alheias e esperar pelo castigo divino.
Porém, apesar de nossos julgamentos,
tudo continua a suceder da mesma maneira a todos, aos justos e aos perversos,
aos bons e aos maus, todos seguem o mesmo destino e terminam suas vidas da
mesma maneira, voltando ao pó do qual vieram. Da nossa perspectiva humana, isso
parece injusto e revoltante, porém, o olhar de Deus não é igual ao nosso, e os
pensamentos de Deus não são os nossos pensamentos. Através de seu amor e
cuidado, Deus oferece sua misericórdia e perdão a todos os homens, independente
de suas ações.
Este é o motivo de nossa alegria
apresentado por Salomão. O homem não luta para obter a aceitação de Deus, pois
já foi aceito em Cristo, que não vê bons nem maus, mas sim perdidos, aos quais
ele veio libertar da culpa. Por causa do seu filho, Deus faz
muito mais do que observar a nossa conduta e fechar os olhos diante de nossas
faltas. Ele não só aceita as nossas tentativas de fazer o bem, como assume
nossas falhas, nos ajuda a corrigi-las e ao menos, tentar melhorar por amor de
nosso próximo. Assim, Deus, em sua graça, age em nós e por nós. Ele aperfeiçoa
aquilo que fazemos de maneira imperfeita. Canaliza tudo, inclusive o mal, para
o bem.
Isso
nos deixa livres para aproveitar todas as dádivas que Ele nos dá, e nos
capacita a amar as pessoas que Ele coloca em nosso caminho. Coisas pequenas tais
como ouvir música, comer uma pizza com os amigos, beber, e até mesmo dar milho
para as galinhas, são todas dons de Deus. Podemos nos alegrar e fazer tudo
conforme nossas capacidades, aproveitando cada dia que Deus nos dá, sem a
preocupação de sermos aceitos por causa do que realizamos ou rejeitados por
causa do que deixamos ou falhamos em realizar.
Foi para a liberdade que Ele nos
libertou, permaneçamos firmes e não nos submetamos novamente ao jugo da
escravidão.
Em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo. Amém.
Saulo Alencar Peiter Bledoff
Teologando da ULBRA e Seminário Concórdia
Nenhum comentário:
Postar um comentário